21 junho 2007

Até onde conhecemos as pessoas?


Por: Cyrano de Monserat

Acabei de ler essa semana o livro “O Homem de Gelo – confissões de um matador da Máfia”. Esta é a biografia de Richard Leonard Kuklinski, que exerceu a profissão de matador de aluguel por quarenta e três anos, e executou mais de 250 pessoas (ainda sem uma estimativa exata, pois o próprio Richard afirma ser bem mais) sob a tutela da máfia de New Jersey. O homem de gelo - confissões de um matador da máfia é fruto de mais de 240 horas de entrevistas frente a frente com Kuklinski na Penitenciária Estadual de Trenton. As entrevistas foram realizadas pela rede de TV HBO, cujo documentário final recebeu diversos prêmios.
O autor Philip Carlo divide a obra em cinco capítulos e mostra como era a relação de Kuklinski com seus pais e irmãos, os primeiros trabalhos para a máfia, os assassinatos com requintes de crueldade, a profissão, a relação com seus filhos, esposa e, finalmente, a prisão.
“Ele matava com revólveres, veneno, porrete, facas, estrangulando, usando seus punhos, faca, chaves de parafuso, picadores de gelo, granadas de mão e até mesmo fogo. Nunca vimos nada parecido com ele. Para dizer a verdade, nós nunca nem ouvimos falar de nada semelhante “. Relata Bob Carroll, procurador do estado de New Jersey, que participou da prisão de Richard.
Richard Kuklinski recebeu o apelido de homem de gelo porque deixava algumas de suas vítimas em um congelador, retirando-as depois de muitos dias. Deste modo os investigadores não conseguiam precisar quando o crime havia sido cometido. Um documentário sobre Richard foi ao ar pela primeira vez em novembro de 1999 e da noite para o dia Richard se transformou em um superstar do crime.
Richard desenvolveu de tal forma suas técnicas que a autópsia não revelava que o coração da vítima havia parado por causa do cianeto, ingerido ou simplesmente borrifado com spray no rosto.
Um simples “Hei!”, seguido de um borrifo — “pssst” — no rosto quando o “alvo” olhava e seus dias estavam contados. “Parada cardíaca”, dizia a necropsia. Realmente o coração parara, mas por obediência química a Richard Kuklinski, o biografado. Ele era um matador profissional, por contrato. “Trabalhava” como “freelancer” para a Máfia americana, mas a ela não pertencia por não ter origem italiana, como diz seu sobrenome polonês. Na maioria das vezes o chefão mafioso contratava Kuklinski para matar outro mafioso (menos mal...).



Era o melhor profissional no setor, pela coragem, discrição, eficácia, método e habilidade em não deixar pista quanto à autoria. A referência ao “gelo” não era devida apenas ao seu sangue-frio. É que ele por vezes congelava os cadáveres porque se fossem, eventualmente descobertos, o frio, a ausência ou retardamento da putrefação, impedia a necropsia de saber quando a vítima fora assassinada. A técnica policial pode saber quando a vítima morreu pelo grau de decomposição dos tecidos. Mas se quase não houve decomposição?
Não se pense, porém, que Richard usava veneno por ser covarde, por temer a reação do “alvo”. Mulheres têm preferência pelo veneno justamente porque são fisicamente fracas, sem condições de enfrentar a vítimas — geralmente maridos agressores ou fascinados demais por novas saias. Kuklinski passou a usar o veneno depois de, pessoalmente, matar gente perigosa com tiros, facadas, pancadas ou com as próprias mãos. Era um homem corpulento, com cerca de metro e noventa e dotado de imensa força física — natural, sem halterofilismo. Quando finalmente foi preso e quiseram algemá-lo por trás, as algemas não serviam porque seus punhos eram grossos demais. Foi preciso usar as algemas de pés para imobilizá-lo, e assim mesmo isso foi difícil porque um policial tratou rudemente sua esposa e isso Richard não permitia, fossem quais fossem as armas apontadas contra ele.
O cianeto foi, para ele, apenas um “aperfeiçoamento” técnico, com a grande vantagem de não deixar pista. Era mais inteligente, por exemplo, matar um policial usando veneno, imperceptível à necropsia, quando na dose certa — nem de mais nem de menos, porque aí a vítima sobreviveria —, porque dessa forma evitada mexer em uma casa de marimbondos, os colegas do policial ávidos por vingança.
Segundo as confissões de Kuklinski — já não tinha nada mais a perder, revelando sua vida na penitenciária, pois condenado a várias penas de prisão perpétua — o mafioso que solicitava seus serviços apenas mostrava nome e foto do “alvo”, o preço oferecido e a especificação sobre se queria morte “com ou sem sofrimento’. Se “com”, Richard Kuklinski fazia o seguinte: dominava o “alvo” com um revólver, amarrava seus punhos, passava uma fita adesiva grossa na sua boca, impedindo-a de gritar e jogava-o no porta-mala. Levava-o a um local bem afastado, no campo — onde sabia existir uma caverna cheia de ratazanas enormes; tão grandes que pareciam coelhos. Lá ele deitava a vítima no chão, armava um filmadora num tripé e instalava um holofote ligado a um detector de movimento. Depois ia embora, ciente de que as ratazanas, esfomeadas, apareceriam para o banquete “delivered”. Com a aproximação das ratazanas a lâmpada acendia e a filmagem começava. Poucos dias depois, segundo ele, só restava o esqueleto.

Como o infeliz era devorado ainda vivo, o item “sofrimento” fora atendido. A fita era levada ao mafioso, que se deliciava com a tortura do “traidor”, ou coisa semelhante. E havia outras coisas que é melhor ler no livro.
Não tem sentido prosseguir, aqui, reproduzindo as confissões do “homem de gelo”, prejudicando autor e editora na vendagem, tirando o “prazer” (que prazer?...) do leitor. O livro, em linguagem clara e não vulgar — embora realista quando reproduz diálogos do baixo mundo — é bem uma enciclopédia do crime e da cautela e sangue-frio de um matador que só foi preso graças à quase fanática determinação de um jovem policial idealista. Não é possível omitir, porém, a excepcional coragem de um outro policial que, bom “ator” — até no linguajar sujo — conseguiu se introduzir no fechado mundo da Máfia, fingindo-se um marginal. Bastaria uma leve suspeita de sua condição de agente infiltrado para resultar em sua morte, certamente com muitos padecimentos. As ratazanas ficariam gratas ehehe.
Richard Kuklinski era, assim, um “monstro total?”
Não! Marido totalmente fiel adorava sua esposa — embora por vezes perdesse a paciência e a espancasse quando contrariado e provocado. Em matéria de sexo era puritano. Quando na prisão, recebia cartas de mulheres excitadas — estranho afrodisíaco... — querendo autorização para visitá-lo. Fazendo uma careta de nojo, comentou ao escritor: “Uma delas, na foto, estava com as pernas tão abertas que dava para ver até as amídalas”. Apesar de muito lacônico, tinha senso de humor.
Amava as filhas mas nutria uma certa desconfiança com relação ao filho. Afinal, tratava-se de “um macho”. E tinha também seu lado virtuoso: não tolerava que uma criança fosse maltratada na sua presença. Simplesmente matava o atormentador. Matar mulheres também não estava em sua agenda. Sua mulher dizia que havia casado com dois homens: o Richard bom e o Richard mau. Ela não fazia perguntas sobre onde ele ganhava seu dinheiro porque tais perguntas o deixavam aborrecido. Mas não sabia que era um matador de aluguel.
Por que Kuklinski tornou-se o que revelam suas confissões? Tudo indica que as tremendas e injustas surras que levou quando crianças tiveram decisivo papel na conformação mental e moral de um matador de aluguel. Sua mãe também não revelava, segundo ele, quaisquer sentimentos afetuosos, normais, de mãe. Até o fim de sua vida lamentou o fato de não haver assassinado o pai. No seu dizer, um homem que gostava — principalmente quando alcoolizado —, de espancar os dois filhos, um deles morto de tanto levar socos na cabeça. Crime que ficou impune — uma “queda”, segundo informações fornecidas à polícia — porque a mãe de Richard tinha tanto medo do marido que não relatou a surra impiedosa.
Sob esse ângulo o livro é também informativo, a nos alertar que abusivos espancamentos de crianças pelos pais e, principalmente, a total ausência de amor ou respeito pelos filhos podem resultar em deformações morais que, cedo ou tarde, vão nutrir as ratazanas. As metafóricas ou as propriamente ditas. É um livro que vivamente recomendo, até mesmo como fonte de informação.
A sensação que eu tive ao ler a historia é de que ao mesmo tempo em que Richard é ao mesmo tempo fascinante e assustador como o mais negro pesadelo. Ele representa o pior de nós mesmos – mesmo assim, ouvi-lo é fascinante.

Em tempo: Richard Leonard Kuklinski — faleceu em março de 2006 na Penitenciária Estadual de Trenton, New Jersey

12 comentários:

Wagner disse...

Pela primeira vez eu estou vendo um texto do Cyrano, e ele é bom para escrever!

André Martins disse...

Ah se eu despertasse o meu espírito Kuklinski... hehehehehe
Deus proteja a humanidade!

Anônimo disse...

Sensacional!!!
deu ateh vontade de ler o livro!!

Felipe Dib Boufflers disse...

isso só quando eu chegar ao seu nível
e isso ta bem longe!
hahaahahah xP

Jefferson disse...

Infelizmente ou felizmente eu ainda não estou preparado pra conhecer esse lado "mau" humano personificado nesse matador...só a cena das ratazanas devorando um homem vivo ja me embrulhou o estômago, definitivamente eu não conheço nada do que o ser humano é capaz.

L. disse...

caramba..
eu preciso ler esse livro
:O


;*

Anônimo disse...

i saw a documentary called Iceman: Confessions of a Mafia Hitman, and that was amazing, i probably got a killer side in me, it is the same thing than this book.
you all got to see this!
i am going to get a copy for you.
ONE LOVE!
RAFAEL

Anônimo disse...

I FORGOT TO SAY THAT HE HAD A NORMAL LIFE, LIKE ANY OF US, NONE OF HIS NEIGHBOURS KNEW WHAT HE WAS DOING.

Anônimo disse...

tambem ja li o livro, simplesmente fascinante concordo plenamente com tudo que diz no seu texto

Anônimo disse...

Amiguinhos, a conciência de bem e mal é recente, nós somos naturais matadores desde nós hominídeos, nascemos homens e guerreiros e deparamos com guerreiros melhores e nos assustamos, sim a humanidade tende a ser piramide, a elite bate o chicote, os bobos da corte trabalham e produzem para elite e o povao pede esmola e ganha migalhas pelo voto "democratico" rs, sim amiguinhos a guerra lá em cima é bemmmmmm pior e politicalizada, com tecnicas tecnológicas bemmmmm mais sofisticadas para matar... não me impreciono mais com nada, só com uma bela bunda.. os fortes reinarão e os fracos servirão.. a natureza é assim e sempre será... perfeita e admiravel ;) bjs as mulheres que estão cansadas de frutinhas... óoo nunca vi coisa tao horrivel.. kkkkkkk estuda e vira homem rapa

Anônimo disse...

Ei, filho-da-puta plagiador: o texto é de outro autor. Pára de levar crédito nas costas alheias, porra!

Anônimo disse...

vi o filme e parece impressionante. o perfil é de um sociopata , e nestes casos os mau´tratos infantis apenas despertam o perfil do 'LOBO' que todos temos um pouco , mas neste abjeto ser se mostrou em todo o seu terrível poder.